EXPANDINDO OS LIMITES

INFLUÊNCIAS DE TODOS NÓS
Por Hans Muller,*
Artigo especial para o BusZine

Falar que o Radiohead é a banda mais importante e influente do rock moderno ao lado do Nirvana, já é quase um lugar comum entre os indies. não é apenas uma "banda de rock", é muito mais que isso! Estão com um pé no Rock Moderno e o outro na arte contemporânea, o que nos leva à arte conceitual nostálgica pós-fins-secularis. A banda sempre buscou investir em novos caminhos pela via experimental (não esquecendo que o experimentalismo é alma da banda). Nos deparamos com experiências ousadas: eles experimentam a si mesmos e quando se arriscam por esses caminhos, não temem os abismos, pois não vêem obstáculos nisso e sim estímulos. Também se adentrando em outras perspectivas, considerando o conflito psicológico como indispensável para o crescimento e liberdade de espírito, trazem em suas letras o desafio de uma reflexão sobre o próprio surgimento da consciência pelos instintos reprimidos. Thom Yorke e companhia buscam significados profundos pela multiplicidade de olhares sobre uma mesma coisa. Em suas canções, transcrevem críticas sociais ao mundo moderno, utilizando seu perspectivismo como abordagem, por não serem conservadores e não se prenderem a nada, enfim conseguem a liberdade de espírito. E é em conseqüência disso que esses novos caminhos são abertos. As invertidas de Yorke são bastante conhecidas: Thom é bem crítico em relação ao consumismo no meio cultural. Revolta-se contra esse "espírito de rebanho" que rege o esse "mundo moderno". Talvez seja por isso que os fãs da MTV detestem tanto ou apenas nunca entenderam os álbuns Kid A e Amnesiac (verdadeiras obras de arte), os encartes e suas maravilhosas ilustrações que não conseguimos entender muito bem, as letras, as mudanças formais e significativas da continuidade artística. Diante do enorme desafio proposto pela banda, muitos dos fãs agora seguem por caminhos mais largos atrás de bandas como o Coldplay, Travis, Turin Brakes, Star Sailor, bem que fiquem por lá. Tudo isso não pode ser visto separadamente, pois para uma boa apreciação de Radiohead é necessário levarmos em conta a forma e o significado de sua arte. Para se adentrar a e esse mundo estranho é necessário ter mente aberta, um gosto musical muito eclético (o mais eclético possível) e, sobretudo, algumas horas livres para reflexão, pois sua obra é densa, complexa e rica, com referências diversas, muitas vezes quase imperceptíveis. O grande responsável por isso tudo, vêm de seu vocalista, que teve dentre outras coisas trabalhado num hospício antes de ingressar no mundo da música. Este "currículo" com certeza contribuiu para torná-lo apto a expurgar através de suas letras uma série de paranóias, inseguranças e desesperanças em relação ao conturbado mundo em que vivemos. Algumas vezes de forma séria e contundente, outras recheadas de ironias em tanto quanto amargas, mas sempre com elevadas doses de lirismo. Claro que podemos ter esta visão com qualquer banda, porém Radiohead é uma das únicas que leva a idéia de conceito a sério. E como se não bastasse, ainda fazem isso como ninguém. Não é fácil ouvir, mas se jogue!

* Hans vive em Chapadinha/MA, e de lá, mostra a veia da sua musica.