Cadê a ponta do Ventania? (o dia em que eu o conheci)

Quando eu tinha 12 anos, um amigo me chamou pra ver uma coisa que ele tinha baixado, era um maluco de voz grossa cantando algo que tem a ver com cogumelos, me disse que era um andarilho, meio hippie. O cara tocava, basicamente, mal um violão, e tinha uma voz falhada, mas eu disse: - Uau!. Pelo que me lembro, fiquei muito entusiasmado, era um som diferente e que me fez querer ouvir mais. Ouvíamos muito, ficava louco com ele, imaginava sua afeição, se tinha barba, magro só o talo, cabelo amarelo (com diz a musica), mas eram somente suposições, não tinha nenhuma foto sequer do tal Ventania. Segui minha vida a diante, fiquei na lembrança o só para loucos, e suas avenidas que tomam forma de aspiral.

Tempos depois, melhor dizer, 9 anos depois, exatamente no sábado passado (11/11) tive o prazer de vê-lo tocar, um show belíssimo pela sua estética grotesca, ele era uma cara que realmente parecia ser. Antes do show, fiquei meio apreensivo, nunca tinha visto o Ventania com banda??? O cara é um andarilho, não têm R$ nem pra comer, como assim, agora tem banda? Imaginei logo que ele chegaria de barba bem feita, cabelos tratados, roupas de “marcas” e caras, ou seja, totalmente diferente do que a musica poderia me comunicar. E o pior, era no Círculo Militar!! Um cara que só cantava louvores à maconha e que em todas as musicas falava de chá de cogumelos, como ele poderia tocas num “terreno” militar, logo esse que foi feita pros generais da ditadura se divertirem? Fiquei como dizem, grilado.

Cheguei na banda La Rica, muito boa por sinal, fizeram um Reggae contagiante e sincero (peraí, com assim sincero?), com uma qualidade musical belíssima e um repertório de ao aceitação, foi uma boa escolha para a abrir o show.

De repente, o apresentador grita: - Ventania, e a galera vai à baixo, junta-se ao pé do palco, quando entra um cara, com um barriga saliente, uma barba malíssima feita, um chapéu de bruxo e um violão com um adesivo da canabis. Um baixista meio desconcertado, meio retraído, mas que segurava o som tanto na precisão como no conceito (do personagem ventania). Wilson, com assim é chamado Ventania no seu registro, entrou no palco com uma camisa de sua cidade natal São Tomé das Letras/MG (lembrando que ele nasceu no interior de São Paulo, e a cidadezinha mineira só em é coração), vêm ao microfone e começa Só para Loucos, um das canções mais conhecidas, e título do seu CD, o pessoal parecia que tava cantando o hino nacional em época de copa do mundo, o delírio foi quase que completo tamanho da magia que ele soltava pelos arredores. Foi seguindo o show e outros clássicos foram saindo, no que o publico ia acompanhando.

Num instante, alguém lá da frente, levanta um cigarro e dá ao cantor, todo mundo fica apreensivo, ventania é claro, dá um trago e divide com o baixista e depois devolve ao indivíduo, a galera responde com gritos de delírios. E o show recomeça, ou melhor, prossegue, até que alguém, novamente lá da frente, bola um beck e joga nas mãos do Ventania, nesse momento todo mundo parou (até a organização), todo mundo queria saber o que ia acontecer. Ele pega o beck, senta no chão e começa a fumar com os que estavam na frente, os caras foram ao ápice de uma “lombra”, foi uma resposta, algo como uma liberação, nesse momento, era como se tivesse sido liberado (embora todos já estivessem fumado) e depois ele ainda vai ao microfone e diz: - Cadê a ponta!!, isso realmente é só para os loucos, e só para os raros, ahh.

Depois, ainda fui lá e tirei a foto com ele. Não poderia perder deixar de fazer isso.